Sunday, August 01, 2004

Algumas palavras à mulher alentejana Rosa Dias

Cara amiga Rosa Dias:

É com imenso prazer que estamos aqui todos reunidos para comemorarmos o Dia Internacional da Mulher e, ao mesmo tempo, prestar uma justa e merecida homenagem à grande mulher alentejana que é Rosa Dias.
São dedicadas a si as próximas palavras e dirigir-me-ei em meu nome pessoal e da Alma J, núcleo juvenil da associação organizadora da iniciativa.
Recordo-me que conheci a Rosa Dias num encontro de grupos corais alentejanos. Já lá vão alguns anos. Era menino. Lembro-me de vê-la em cima de um palco, com esse seu jeito encantador, dizendo palavras envolventes que me abraçavam e levavam a minha memória para a infância passada na planície, entre as searas e os rebanhos, entre os pastores e os trabalhadores rurais, entre o mais belo pôr do sol e a poesia. Reparei que à volta havia emoção, homens e mulheres comovidos pela pureza das ditas palavras ditas com amor e uma força provinda da personalidade que caracteriza os alentejanos, quer sejam nascidos na região quer criados na cultura das suas raízes.
Certamente, são estas mesmas raízes que levaram Rosa Dias a escrever: "Como posso eu renegar/O povo de que nasci" , afirmando nestes versos que as nossas origens nunca deverão ser esquecidas mas assumidas de modo a que a existência de cada um possa estar plenamente consciente com a identidade colectiva.
Rosa Dias olha o Alentejo e encontra nele a poesia, olha o homem do campo, o trabalhador, o alentejano e vê nestes a realidade da vida que não lhe proporcionou a universidade mas a dureza da agricultura. O campo assume também um universo de saberes, pois é nele que o homem alentejano cultiva o trigo, origem do pão, alimento poético dos sentimentos mais profundos de um povo, expressos no poema Povo Poeta: "Temos a arte nas mãos/Somos um povo poeta/Somos poesia em papel/Somos gente que desperta" .

A poesia de Rosa Dias é íntima, toca-nos na alma ao lê-la, ao ouvi-la e, principalmente, ao senti-la. Por tudo isto, não nos surpreendemos quando um grupo de crianças com idades compreendidas entre os nove e os dez anos, depois de escutar um poema da autora que hoje homenageamos, lhe dedique um outro com estas palavras: "Rosa/O teu nome soa com prosa/ Mas és um poema/Uma forma de vida/Uma espécie de emblema."
Mas num dia que é dedicado à Mulher e em que nós homenageamos esta mulher alentejana, não podemos deixar de referir o poema Mulher Mãe em que nos fala da luta, da esperança, da fé, da mais bela Primavera da qual nasce o fruto da paixão, do amor e da vida.
Passados alguns anos, a "Alma Alentejana" possibilitou-nos uma relação de proximidade. Naturalmente surgiu uma empatia mútua e as nossas conversas vão sempre dar à poesia. Às vezes, timidamente envio alguns poemas e outros escritos para sua casa que lidos pela sua voz assumem um corpo literário com outra dimensão, pois a capacidade expressiva de Rosa Dias tem esses efeitos sobre as palavras.
É sobre esta dimensão que assenta o sentido humanista e de causa desta mulher que faz com que a poesia escorra na sua pena, assim como as suas palavras dançam de mãos dadas à volta de um mundo de toadas.
Conhecê-la e tê-la no grupo de amigos, apesar dos anos que nos separam mas que a amizade consegue aproximar pelos gostos, pelas vontades e pela poesia, é uma honra, um privilégio mas também uma responsabilidade.
Para terminar esta intervenção, as últimas palavras são de admiração e reconhecimento pelo trabalho, pela obra, mas principalmente pela pérola humana que nos encanta a cada verso, a cada poema, a cada gesto. Rosa Dias, desejamos sinceramente que continue "Olhando a Planície" e a transformar "em poemas de amor/os campos do "nosso" Alentejo".

Disse.

1 Comments:

Blogger Rosa said...

Querido amigo, hoje 16-3-2009 fui descobrir no Google, palavras que me tocaram de uma forma, que não posso deixar de agradecer todo o carinho, todo este valor que sentes, que sentem por mim, por esta rustica alentejana que apenas diz o que lhe vai na alma.
Aquele abraço da amiga certa.
Rosa Dias

16 March, 2009

 

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