Sunday, August 01, 2004

Compasso

Era hábito que àquela hora se juntassem na estação. Estavam todos com um ar cansado. Cada rosto tinha a mesma expressão pesada, pensativa, com um certo fatalismo no olhar, num misto de vazio e rotina como que circunscrito por um compasso direccionado por alguém. Deveriam ser as únicas semelhanças. Tudo o resto seria muito diferente.
Quando o comboio chegou, uns sentaram-se de imediato nos bancos disponíveis, outros ficaram de pé balanceando os corpos ao ritmo do movimento da carruagem. Alguns passageiros também se encostaram às portas para descansar um pouco, se é que isso era possível. Não se escutava uma única palavra. Tudo estava emudecido. Apenas o som das máquinas se ouvia.
Como que num ápice, chegámos à estação onde nos apeámos. Fiquei com a sensação que voltava as costas a um pesadelo visual, e enquanto descia as escadas o comboio partiu. Simultaneamente, o compasso descrevia um círculo até ao ponto da inércia.
E amanhã a vida daquela gente partiria e acabaria no mesmo ponto.

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