Contributo da ciência nos domínios pessoal, social e cultural
Segundo Suchodolski (1978) podemos entender que a educação intelectual não forma somente o espírito, mas também o suporte desse espírito que é o homem. Na educação deve-se atribuir importância a tudo o que faz promover o interesse e as necessidades no que respeita a matéria de conhecimentos e inquietações como vontade de perceber a verdade, ou seja desenvolver um processo de individualidade humana que torne a zona intelectual viva e dinâmica.
Desenvolver uma educação pela ciência significa que "a ciência se torna um elemento formativo de toda a personalidade do homem e não só a habilidade do seu espírito para assimilar e aplicar-se à ciência", na qual nos devemos referir às diferentes facetas da vida humana. O seu exercício desperta a curiosidade, suscitando interesse pelos diferentes problemas, exigindo um raciocínio sistemático, numa direcção de acção mediante a previsão científica, estabelecendo os princípios de escolha e as decisões em apoio de uma fundamentação objectiva. Numa linguagem de psicologia tradicional, "a educação pela ciência deve formar não só as faculdades intelectuais, como ainda a vontade e também os sentimentos", nas quais enquadramos a imaginação como elemento específico da vida humana, onde a "liberdade visionária se alia ao pensamento disciplinado e crítico."
Como a ciência educa o homem num todo, quer nas suas características pessoais interiores quer no seu papel social, alcança desta maneira uma perspectiva mais avançada longe da educação intelectual tradicional, "que tinha o carácter de actividade orientada exclusivamente para um delimitado domínio da vida, tratado em separado, e que na prática só era importante para um restrito domínio da vida social". Este alargamento e aprofundamento da educação pela ciência é uma importante directiva na reorganização da educação tradicional transformando-a numa educação para o futuro. E neste sentido podemos verificar através de vários autores como Piaget (1978), Petrasch (1996), Fischer (1994) e Goodman (1978) que é possível desenvolver conhecimento na criança a vários níveis, nomeadamente através das dimensões pessoal, social e cultural.
Transpondo esta fundamentação para o contexto das quintas pedagógicas ao nível da dimensão pessoal a criança vê nela um espaço que é um conjunto de lugares exteriores a si, ao seu corpo, nos quais desenvolve actividades e a sua maneira de ser. A criança ao mexer na terra, familiariza-se com ela, sente-se responsável pela sua preservação, desenvolvendo em si uma atitude crítica e, deste modo, cresce com este processo consciencial (Petrash, 1996).
Citando este autor , e referindo-se esta autora às crianças, "o facto de saberem que as coisas têm um ciclo e se repetem dá-lhes um sentimento de segurança e bem-estar."
Estamos, pois, perante uma dimensão pessoal, que podemos fundamentar nos trabalhos desenvolvidos por Piaget (1978) que mostraram como a criança organiza progressivamente o espaço, como o constrói em relação com as possibilidades ligadas aos diversos estádios de desenvolvimento.
A escola para além de ensinar as disciplinas deve contribuir para o domínio de um conjunto de capacidades processuais que envolvem aprender a pensar, a analisar criticamente, a relacionar-se com os outros, a investir no desenvolvimento de projectos, a questionar e a ter iniciativa (Suchodolski, 1978).
Estas capacidades são instrumentais para a qualidade de vida dos jovens em diversos domínios existenciais: o trabalho, o lazer, a família, as relações de amizade e a comunidade (Goodman, 1978).
Mas, surgem outras dimensões que não podemos descurar, como por exemplo a dimensão social. É preciso desenvolver uma interiorização de regras, as quais definem uma maneira de ser e de viver numa sociedade. Um espaço, a sua organização, o seu uso social, são atravessados por comportamentos e actividades ligados aos sistemas e valores vigentes numa sociedade" (Fischer, 1994) . E, ainda, segundo palavras do mesmo autor "a dimensão social do espaço reveste-se de características próprias; em primeiro lugar ela revela, a existência de uma relação entre organização do espaço e comportamento social, assim como revela que certos efeitos sociais estão ligados ao arranjo dos espaços . Pelas afirmações deste autor podemos afirmar que o espaço social é o conjunto de comportamentos e das relações que se desenvolvem num dado território e que caracterizam as diversas modalidades de acções no interior de uma organização definida do espaço. Pode, pois, ser considerado como o sistema de repartições e de inscrições das actividades e das relações obedecendo às normas que presidem à estruturação de uma sociedade.
Na dimensão cultural o indivíduo afirma-se parte integrante de um todo que ele sente, também, como sendo seu, como forma de condição humana, extraída do processo de instrução, veículo de adaptação ao meio físico e à cultura da sociedade onde vive.
Como dimensão formadora do indivíduo a cultura designa um conjunto de regras interiorizadas, de saberes e de práticas partilhadas pelos membros do grupo, ao encontro de uma realidade comum, a qual advém de um conjunto de costumes que constituem a herança social de uma comunidade, assegurando a integração dos indivíduos numa colectividade (Goodman, 1978).
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