A importância das quintas pedagógicas no processo de aprendizagem das crianças
Este fenómeno das quintas pedagógicas pode, pelas actividades que nelas são desenvolvidas, contribuir para o processo de aprendizagem das crianças.
Na perspectiva de Bertrand, Valois e Jutras (1998) "a educação deve orientar-se para uma nova cultura procedente de uma verdadeira consciência ecológica", como meio de transmissão de conhecimentos em torno da necessidade social de intervenção nas questões do ambiente. Defendem os autores "uma cultura da educação onde a reflexão entre o aluno e o ambiente em que vive se torna matéria para compreender e objecto de intervenções". Ainda os mesmos falam-nos numa "evolução das mentalidades" e, a propósito da importância da escola enquanto instituição social no desempenho do processo de desenvolvimento dos alunos, afirmam que é necessário uma "nova cultura pedagógica enquanto solução para os problemas da educação e para os problemas da sociedade."
Segundo Trovão do Rosário "O objectivo de qualquer acção educativa deve ser definida claramente, antes de ser estudado qual o melhor método de ensino ou o melhor processo de aprendizagem." E continua afirmando que "deverá ser o objectivo conhecido quer de quem ensina quer de quem aprende."
Ainda na perspectiva do mesmo autor cabe às gerações vindouras "criar condições para que estes sejam substituídos por outros como, não menos importante, devem criar um amplo espaço de disponibilidade onde, em cada dia, a criatividade, a imaginação, a descoberta, possam germinar. Espaço que deverá ser, antes de tudo, um espaço que estimule a liberdade e no qual as novas gerações possam conscientes e responsavelmente fazer as suas escolhas."
O papel do educador passa, então, pelo fornecimento de "meios para que este possa compreender as ideias dos outros e para que ao mesmo tempo tenha a possibilidade de criar as suas próprias ideias." A missão da educação é fazer nascer "as dimensões do homem."
Na opinião de João Mosca "poucas são as abordagens globais que consideram o ambiente como parte integrante do desenvolvimento, dos modelos económicos e sociais, da vida, no quadro de aproximação interdisciplinar e sistémica."
Segundo o mesmo autor "a defesa do ambiente faz parte dos processos de ensino/aprendizagem social. Estas atitudes, além de constituírem comportamentos positivos, revelam comportamentos cívicos apreciados pela comunidade.
Numa sociedade que vive num contexto de crescente globalização começa a ser conduzida para um "grau de homogeneização macrossocial dos gostos, do consumo, da cultura, dos hábitos de vida, da maneira de ver o mundo" que torna importante a criação de espaços pedagógicos que sensibilizem as crianças, favoravelmente, para a preservação do ambiente, a partir das atitudes individuais e colectivas.
Deste modo, a educação cívica e ambiental responsabiliza os cidadãos para a contribuição no aprofundamento de conhecimentos em relação aos aspectos ambientais."
A educação ambiental é "um processo integrado de aprendizagem das relações dos indivíduos e dos grupos sociais com o seu ambiente, quer seja natural ou construído, independentemente da importância relativa que cada um adquira no conjunto; um ensino baseado na experiência e no real que deve usar a totalidade dos recursos, incluindo os naturais, a escola e tudo o que o rodeia como se se tratasse de um laboratório vivo, orientando as aprendizagens para o desenvolvimento de processos que assegurem a sobrevivência qualitativa da nossa espécie; uma metodologia activa, baseada em aspectos pluridisciplinares que ligam cada tema, vocacionada para a formação de cidadãos responsáveis, conscientes e participativos na problemática ambiental; a via para potenciar a necessidade de criar um novo sistema de valores, uma ética ambiental aceite pela generalidade das nações."
No seguimento da mesma óptica do referido autor "a primeira etapa necessária para a introdução da educação ambiental no processo educativo é a determinação de uma estratégia que permita desenvolver um trabalho com toda a comunidade educativa para apresentar as questões de ambiente."
No ensino básico devem ser desenvolvidas acções de sensibilização ambiental no próximo do meio, de forma a desenvolver o espírito analítico, numa consciencialização das relações com a comunidade, proporcionando a aquisição de novas capacidades, através de uma intervenção responsável e construtiva do ambiente."
Transpondo estas reflexões para a contextualização deste capítulo, segundo a UNESCO e o Programa das Nações Unidas para o Ambiente, a educação é um processo que não cessa nunca, se não vejamos a seguinte afirmação:
"A educação relativa ao ambiente é concebida como um processo permanente no qual os indivíduos e a colectividade tomam consciência do seu ambiente e adquirem os conhecimentos, os valores, as competências, a experiência e também a vontade que lhes permitirão agir individual e colectivamente, para resolver os problemas actuais e futuros do ambiente".
Então, temos a ecologia como uma perspectiva da educação a partir de uma escola integrada no meio, de maneira a que as dificuldades habituais sejam um os catalisadores da formação dos indivíduos.
Segundo Bertrand, a educação da ecologia deve ser crítica, orientada pelos seguintes princípios educativos: "o autodesenvolvimento da pessoa é função e parte empreendedora da evolução do seu meio, porque ambos pertencem à mesma realidade; a pessoa utiliza, quase simultaneamente, diversas maneiras de interpretar e de conhecer a realidade; a pessoa pode modificar o macroproblema ecológico participando na invenção de novas comunidades mais respeitadoras da vida sob todos os aspectos."
Assim, estamos perante uma filosofia da ecoeducação numa na perspectiva interdisciplinar, incidindo num contexto social e cultural do conhecimento.
Na mesma linha de reflexão Brow e Campione afirmam que nas aulas os alunos "actuam como investigadores responsáveis, em certa medida, da definição das suas próprias competências"
Ora, a ecoeducação enquanto componente "reúne responsabilidade individual e partilha comunitária do saber, dos conhecimentos científicos, do pensamento, do imaginário e da intervenção ecológica".
Segundo Fausto Cruz "o objectivo principal da ecoeducação deixa de ser a aquisição, quer ela seja interdisciplinar e sistémica do conhecimento científico passando a ser a interpretação crítica do meio, isto é, uma pedagogia das práticas culturais."
Para exprimir melhor estas reflexões Sauvé diz que "a educação relativa ao ambiente é compreendida aqui como um movimento educacional que elogia o desenvolvimento de uma pedagogia específica, caracterizada pela semelhança de vários princípios pedagógicos diferentes dos da pedagogia dita tradicional: entre outros, a aproximação global e sistémica da realidade, a interdisciplinaridade pedagógica, a abertura da escola sobre o meio, o recurso à tentativa de resolução de problemas reais, a implicação activa do aprendiz no processo de aprendizagem, a aproximação cooperativa da aprendizagem."
Ao fazermos um enquadramento destes pensamentos mais abrangentes com a especificidade das quintas pedagógicas notamos que as diferentes actividades propostas pelas quintas pedagógicas, na opinião de António Maia "promovem um adequado processo de desenvolvimento, estimulam a curiosidade, a criatividade, a capacidade de auto-organização e a iniciativa; no contacto directo com a natureza experimentando e entendendo as suas transformações integram a noção de ciclos de vida; introduzem temáticas e experiências de aprendizagem activas e estimulantes para os processos de socialização mais elementares tais como a noção de Eu e os Outros, identificação das necessidades do outro, interajuda, amizade, modelos alternativos de identificação, relações interpessoais; permitem compreender as diferenças entre meio urbano e o meio rural; promovem a aquisição de valores relacionados com a importância da protecção do meio ambiente e dos recursos naturais."
Ainda o mesmo autor afirma "ao valorizar uma aprendizagem em contextos diversificados e estimulantes podemos contribuir para que os jovens envolvidos possam ir encontrando ao longo do seu processo de aprendizagem o prazer de viver, uma vez que o mais importante da vida não se ensina, aprende-se".
Noutra perspectiva, Ramos de Almeida, entende que as quintas pedagógicas contribuem "para trazer à superfície valores fundamentais guardados geneticamente no inconsciente colectivo", nomeadamente no que respeita aos "valores ecológicos - amor da natureza, protecção dos rios, campos e florestas; valores sociais - respeito pela vida sob todas as formas e condenação da violência; valores sanitários - protecção da saúde, repúdio da toxicodependência; valores demográficos - redução da emigração para as cidades, gosto pela vida livre ao ar livre.
Para Paula Oliveira Dias as quintas pedagógicas possibilitam "o contacto com a natureza e permitem que a criança da cidade possa vivenciar situações diferentes que irão enriquecer e contribuir para o seu desenvolvimento global" , ou seja as quintas pedagógicas permitem o funcionamento de um modelo de educação não formal, transmitindo às crianças, para além da aprendizagem do mundo rural e das tradições culturais, noções em relação à educação ambiental, sendo um espaço educativo multidisciplinar que enriquece de forma integrada o desenvolvimento da criança.
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